Microplásticos já estão em nosso corpo - como eles nos prejudicam?
29 / 06 / 2022 Fique por DentroOs plásticos estão em nossas vidas de todas as formas que podemos imaginar e com usos mais variados possíveis, desde uma simples sacola de mercado até carros, aviões, embalagens plásticas, próteses. Possuímos uma infinidade de usos para esse derivado do petróleo.
O problema ambiental não é exclusivamente o uso do plástico ou mesmo a exploração de um recurso mineral finito para a sua produção, mas o pós uso desse tipo de material. Se tivéssemos descarte, coleta, reciclagem e reuso adequado dos plásticos, não haveria necessidade de debater sobre o assunto.
A questão aumentou quando passamos a entender que o plástico, embora leve centenas de anos para se decompor completamente, se quebra continuamente no meio ambiente, se transformando em fibras tão pequenas quanto um fio de cabelo ou até menos, os chamados microplásticos.
Sabemos disso há mais de 25 anos e se imaginava que, pelo tamanho das partículas, elas poderiam ser facilmente transportadas pelo ar e mesmo ingeridas por organismos de vida livre como peixes, moluscos e aves. Há 40 anos biólogos vêm identificando a presença de fragmentos de plástico nos estômagos de peixes e aves marinhas e todo o estrago que esse material quando descartado incorretamente causa nos ecossistemas globais.
Somente em 2020, 360 milhões de toneladas de plástico foram fabricadas em todo o mundo e esse valor deve aumentar em 3 vezes até 2050. Desse total, um valor muito pequeno – cerca de 14% - é reciclado, e conforme estudo publicado na renomada revista Science, cerca de 11 bilhões de toneladas de plásticos vão se acumular na natureza até 2025. Após a identificação de microplásticos nos animais marinhos no começo dos anos 2000, levantou-se a preocupação sobre o consumo de frutos do mar, que poderia contaminar esse tipo de alimento, mas os dados ficaram mais alarmantes nos últimos anos. Desde 2015, microplásticos foram encontrados em todos os lugares possíveis: desde o alto do monte Everest até à Fossa das Marianas, ponto mais profundo dos oceanos com mais de 11 km de profundidade.
Recente pesquisa de doutorado na Nova Zelândia identificou amostras de microplásticos em flocos de neve que caíram recentemente nos locais mais isolados da Antártica. Os microplásticos se espalharam por todo o mundo (ainda não se sabe como, mas provável que sejam transportados pelo ar e pela água), em todos os continentes e estamos em contato com eles diariamente: respirando, comendo, bebendo.
Estudos conseguiram descobrir que os plásticos podem ser maléficos ao sistema reprodutivo e estressar o fígado de animais em laboratório. Embora esteja comprovada a toxicidade dos microplásticos para animais, saber o seu efeito em humanos ainda é uma incógnita, pois não conseguimos conduzir estudos com esse efeito isolado.
Já foram identificados microplásticos no sangue, no pulmão, nas fezes, na placenta de bebês ainda não nascidos e em vários outros órgãos do corpo humano. Especialmente nas vias aéreas, sérios riscos de alergias, rinites, complicações e quadros inflamatórios são criados.
Em testes em laboratórios, os microplásticos foram danosos às células humanas, levando a alergias e até mesmo à morte celular, mas ainda não podemos extrapolar esses resultados para órgãos ou um organismo completo. Há fortes indícios da conexão da exposição de microplásticos e impactos na saúde humana.
Estamos em um momento de curva de aprendizagem. Há uma lacuna de conhecimento sobre o tema, que foi descoberto há poucos anos. Sabemos que estamos expostos aos microplásticos nas 24 horas de nossos dias, sendo em casa, ao ar livre, no escritório, andando de bicicleta, tomando banho de mar ou em meio às florestas. Mais e mais pesquisas precisam ser feitas para entendermos essas conexões e entendermos os impactos na saúde humana e se há limites seguros para essa exposição.
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