Verão, calor, temperaturas escaldantes, termômetros marcando mais de 30°C. O calor chega só de imaginar dias assim, como os que temos passado nesses meses de início de ano no Brasil. Tivemos uma série de dias com temperaturas acima de 35°C graus e sensação de abafamento. São nesses momentos que a procura por produtos refrescantes e naturais aumenta, como o açaí, por exemplo.

O fruto, nativo da floresta amazônica, caiu nas graças dos brasileiros há alguns anos e sua demanda aumentou exponencialmente, dando uma alternativa de renda para comunidades ribeirinhas e povos tradicionais, que podem tirar a sua renda fazendo o manejo correto da floresta amazônica, sem agredir o meio ambiente. Porém, recentemente, o paladar dessa fruta também conquistou outros países, aumentando a demanda para a colheita da fruta.

O cenário parece muito bom até aqui. Povos tradicionais tirando o seu salário de forma sustentável, coletando frutos de uma árvore nativa da amazônica, impedindo o desmatamento e outros problemas ambientais. Mas, infelizmente, a conta não é tão simples assim. Conforme o aumento da demanda para a compra do açaí, o método tradicional de apenas coletar as frutas nas árvores em floresta nativa mostrou-se limitado. Isso pois havia mais demanda do que oferta de frutos que a floresta era capaz de suprir.

Um artigo publicado na revista Biological Conservation traz uma luz sobre esse cenário e mostra alternativas para o manejo correto da fruta que é conhecida pelo seu rico percentual de fibras, antioxidantes e valor energético.

Nos últimos 10 anos, a produção de açaí aumentou mais de 15.000%, percentual que traduz muito bem o sucesso da fruta em todo o país e agora no resto do mundo. Pesquisadores constataram que em regiões tradicionais, cerca de 70 espécies de árvores ocorrem por hectare, juntamente com as touceiras de açaí. Porém, em áreas de grande exploração, como várzeas dos rios, grandes monoculturas de açaí formam-se com a derrubada da floresta amazônica.

Com a retirada das demais árvores, perde-se a biodiversidade de plantas e animais associados a ecossistemas naturais. Da mesma forma, a riqueza de insetos também é afetada, o que diminui a polinização de plantas, inclusive do próprio açaí, que necessita de muita água. O corte excessivo das demais plantas diminui a oferta de água nas áreas de cultivo, levando a uma queda média de produtividade, de até 60%. A maior produção de açaí se mostra em áreas de floresta nativa e não nas áreas cultivadas.

A melhor alternativa é o manejo sustentável, manter áreas de floresta nativa com a coleta e plantio de algumas touceiras em áreas nativas, mas respeitando a biodiversidade das várzeas. Com esse manejo, a produtividade das árvores aumenta, os trabalhadores colhem mais frutos por planta e a floresta amazônica permanece em pé, gerando renda e contribuindo com serviços ambientais.

https://brasil.mongabay.com/2021/09/demanda-global-por-acai-esta-destruindo-as-florestas-de-varzea-da-amazonia/

https://revistapesquisa.fapesp.br/desmatamento-verde/