A geração de resíduos há décadas é um problema global e não apenas nacional. Estima-se que em 2023 a produção mundial de resíduos chegou a 2,3 bilhões de toneladas e deve continuar crescendo e aumentar mais de 50% até 2050 e chegar a 3,8 bilhões de toneladas.

Embora seja um problema global, os maiores efeitos são sentidos nos países mais pobres e que não fazem um correto gerenciamento do seu resíduo, muitas vezes fazendo a incineração ou descarte irregular. As consequências ambientais são contaminação do solo, emissão de gases de efeito estufa, contaminação de rios e água subterrâneas. 

E essa é uma realidade brasileira, onde 38,9% de todos os resíduos gerados não possuem uma destinação ambientalmente adequada, conforme dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). Dados recentes da Abrema apontam que em 2023 quase 38 milhões de toneladas de resíduos foram enviadas para lixão ou descartes a céu aberto e outras 5,3 milhões de toneladas não foram coletadas e acabaram sendo descartadas de forma irregular.

Todo esse volume de resíduos traz um peso enorme às economias mundiais, estima-se que atualmente o custo para tratar os resíduos é na casa de 361 bilhões de dólares, considerando o tratamento e combate à poluição pelo descarte irregular, mas até a metade do século a conta deve quase dobrar, atingindo 640 bilhões de dólares ao ano (R$ 3,1 trilhões), de acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA).

Entretanto, a conta pode ser bem menor e ser reduzida a 270 bilhões de dólares ao ano até 2050, uma redução de 58% se fossem adotados melhores métodos de tratamento, expansão da coleta e reciclagem dos resíduos. E a conta pode ser melhorada e ficar no azul, caso haja um avanço em práticas industriais, valorização de resíduos e adoção de economia circular, é possível obtermos um lucro líquido de 100 bilhões de dólares anualmente.

O Brasil tem um papel fundamental nisso e pode responder por uma grande fatia no bolo dos lucros oriundos da gestão de resíduos, pois recicla apenas 4% dos resíduos sólidos gerados e explora menos de 1% da sua capacidade instalada de biometano.

O biogás é um gás oriundo da decomposição dos resíduos em aterros sanitários e um dos principais gases de efeito estufa, após purificado torna-se o biometano e tem várias aplicações. Atualmente a maior parte dos aterros sanitários faz a queima desse gás para que seja convertido em carbono e cause menos impactos ambientais.

Mas o gás pode ser um grande aliado no combate às mudanças climáticas e fomento às economias, pois há uma demanda global por biometano, que pode ser purificado e utilizado para a geração de energia elétrica ou substituir o gás natural veicular (GNV) no abastecimento de veículos, ser injetado na rede de gás natural, ser utilizado em indústrias e residências, além de grande potencial térmico.

Atualmente o Brasil conta com 20 usinas de produção de biometano em aterros sanitários e explora menos de 1% do seu potencial diário, estimado em 100 milhões de m³/dia, o dobro da oferta de gás natural do país em 2022. Considerando a cotação de venda do biometano em 2021, esse mercado pode responder por quase 10 bilhões de dólares anualmente no Brasil e 100 bilhões globalmente.

Estamos tendo a oportunidade de transformar o tratamento de resíduos em uma fonte de renda, tecnologia e energia menos poluente que as de origem fóssil. Expectativas apontam que até 2029 o Brasil deve ter até 90 usinas de geração de biometano e aumentar a sua produção diária em 700%.

Referências:

Exame: Pepsi substitui gás natural por biometano da Ultragaz em sua maior fábrica - Money Report

O preço de equilíbrio do biometano no estado do Rio de Janeiro: A ineficácia da Política Estadual de Gás Natural Renovável – Ensaio Energético (ensaioenergetico.com.br)

Brasil deverá ter 70 plantas em operação de biometano até 2029 – JornalCana

Ao custo global de R$ 3,1 tri, manejo de resíduos pode virar negócio, como o biometano brasileiro | Exame

O que é o Programa Nacional de Biometano discutido no Combustível do Futuro (epbr.com.br)