O conceito de lixo zero parece bastante desafiador, mas ele não consiste em gerar nada de lixo, zerar ao máximo a nossa produção de resíduos, pois isso é humanamente impossível. Qualquer atividade humana irá produzir lixo, ou melhor, chamaremos de resíduos.

Resíduos são subprodutos de qualquer atividade humana diária, seja doméstica, industrial, agrícola ou qualquer outra forma de interação humana. Sempre haverá “lixo” gerado. Conforme dados da ABRELPE (Abrelpe - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), se mantermos o cenário atual de consumo e produção de bens, a geração de resíduos no mundo saltará de 2 bilhões de toneladas/ano em 2016 para 3,6 bilhões de toneladas em 2050, estamos falando de um aumento de 80% em um intervalo de pouco mais de 30 anos.

No Brasil o cenário é parecido, anualmente são coletados 76 milhões toneladas de resíduos sólidos urbanos e apenas 60,5% têm o destino adequado de ser encaminhado aterro sanitário, o que não garante que passou por um processo de triagem e reciclagem. Desse total, 20% são de resíduos sólidos industriais, o que demonstra uma participação considerável na geração de resíduos, mas com características peculiares e que demandam tratamento específico antes de ser encaminhado para disposição final.

E respondendo à pergunta que dá título ao texto, não é possível termos cidades e empresas com lixo zero, pois além dos resíduos sólidos que podem passar por um processo de reaproveitamento, também são gerados rejeitos, materiais que não possuem capacidade de serem reciclados ou compostados, sendo enviados diretamente para aterro sanitário ou aterro de resíduos industriais. 

Os principais exemplos de rejeitos urbanos são papel higiênico, fralda, absorvente feminino, fio dental, cotonete, papeis com óleos ou molhos, chiclete, algodão, fita adesiva. Já os principais rejeitos industriais são óleos, ácidos, graxas, resinas, colas, vernizes, solventes, líquidos contaminados com hidrocarbonetos, efluentes industriais, lodo de estação de tratamento de efluentes e qualquer material contaminado com esses itens.

Entretanto é possível dar um tratamento adequado a 90% dos resíduos gerados nas cidades e empresas, os 10% restantes devem ser encaminhados para aterros sanitários ou industriais. As principais alternativas para minimizar ao máximo a geração de resíduos são:

1. Reciclagem: apesar de coletar mais de 90% dos resíduos que gera, o Brasil recicla apenas 3% dos resíduos sólidos que gera. Há margem para aumentar muito as taxas de reciclagem com melhora no sistema de coleta de resíduos, implementação de coleta seletiva, educação ambiental com a população e geradores de resíduos e melhora nos sistemas de triagem de resíduos;

2. Compostagem: é o processo de reaproveitamento da matéria orgânica, onde os restos de alimentos, cascas são misturados com terra ou serragem e com processos biológicos ocorre a decomposição do material e geração do húmus (adubo orgânico). Conforme dados da EMBRAPA, menos de 1% da massa coletada dos resíduos sólidos urbanos acaba sendo reciclada em unidades de compostagem, o que equivale a aproximadamente 300 mil toneladas ao ano.

3. Logística reversa: consiste no processo de retorno do resíduo ou embalagem para o produtor ou vendedor do material.  No Brasil a lei federal nº 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabeleceu a logística reversa e a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Atualmente setores como embalagens de agrotóxico, embalagens de óleo lubrificante, lâmpadas fluorescentes, medicamentos, equipamentos eletrônicos, baterias de chumbo-ácido, embalagens de aço e embalagens em geral possuem compromissos e metas específicas de logística reversa.

É humanamente impossível, pelo menos por enquanto, termos cidades e empresas “lixo zero”, entretanto é possível alcançar a correta gestão de 100% dos resíduos e garantir o reaproveitamento, reciclagem, reutilização e compostagem de cerca de 90% de tudo que geramos de resíduos. A gestão correta dos resíduos começa em nossas casas, empresas, escolas e passa por uma mudança de comportamento, sempre priorizando a não geração, minimização, reutilização, reciclagem, tratamento e destinação final adequada dos resíduos e rejeitos.

Referência:

Compostagem - Portal Embrapa

O-futuro-do-setor-de-gestao-de-residuos-ISWA-2022.pdf (abrelpe.org.br)

Lixo Zero é oportunidade de negócio para micro e pequenas empresas (cidadeslixozero.com.br)

Lixo zero é possível? Saiba como reduzir a quase nada o que não pode ser reciclado  | GZH (clicrbs.com.br)

Programas de Reciclagem Gratuitos · TerraCycle

sinir.gov.br

Panorama 2022 – Abrelpe