Piracema: qual a sua importância para a manutenção dos estoques pesqueiros?
08 / 11 / 2022 CuriosidadesVocê sabe o que é piracema?
Também conhecido como período de defeso, trata-se da época entre os meses de primavera e verão no qual os peixes se reproduzem e há restrição de pesca para garantir a perenidade das populações pesqueiras. A palavra vem do tupi e significa, literalmente, “subida dos peixes” - “pira” denota “peixe” e “cema”, “subida”. Isso se aplica para peixes que se reproduzem em águas doces e a subida dos rios estimula os peixes a entrarem no período reprodutivo.
O período de piracema é associado às chuvas na maioria das regiões, pois é o momento no qual os rios sobem de nível e os peixes mudam o seu comportamento, subindo em grupos em busca das nascentes e águas mais calmas para a reprodução e postura dos seus ovos. Alguns fatores como derrubadas de mata ciliar, cultivo de monoculturas, uso de agrotóxicos e assoreamento podem influenciar no equilíbrio físico-químico dos rios e afetar a piracema. E nenhum deles é mais perigoso do que a pesca irregular nesse período.
O Brasil possui poucas informações sobre o que pesca. O relatório Auditoria da Pesca Brasil 2021 demonstra que apenas 8 dos 117 estoques pesqueiros do nosso país possuem situação conhecida. Os fatos demonstram o atraso do país acerca do tema, os quais, muito provavelmente, apontem para o caso de sobrepesca e estoques de espécies abaixo do indicado para a manutenção segura da atividade pesqueira.
A legislação federal define que os estados possuem competência para determinar o período de defeso (restrição da pesca) com base nos meses de piracema dos peixes e rios de cada região. Em geral, esse período vai de outubro a fevereiro, com pequenas variações de estado para estado; alguns com restrições totais à pesca e outros com cotas de pesca ou mesmo apenas liberação de pesca esportiva.
Dados da FAO, (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) demonstram que 90% dos estoques pesqueiros do planeta estão sendo sobre-explorados e sem capacidade biológica de renovação. O mesmo estudo analisa que o consumo de peixes no mundo atingiu seu maior patamar da história, tendo como média anual 20 kg por pessoa. Já no nosso país, o consumo chega a 9 kg por pessoa ao ano, estando abaixo dos 12 kg recomendados pela FAO. Isso se explica pelo fato de que a proteína do peixe é mais cara do que a de carnes de frango e porco.
Sabe-se que populações de peixes migratórios como o dourado, pintado, mandi, a piramutaba, e outros de interesse comercial são diretamente afetadas com o período de piracema e a subida aos rios, sendo que algumas espécies chegam a percorrer até 400 km.
Estudos realizados demonstram que barragens interferem diretamente na migração dos peixes e nos estoques pesqueiros:
- Cerca de 60 a 75% das populações de peixes são imediatamente reduzidas ou desaparecem após o barramento dos rios, pois a piracema é interrompida.
Percebe-se, através dos dados, a importância da piracema na manutenção dos estoques pesqueiros continentais, sendo o período necessário para manter a maior parte das espécies de peixes nos rios brasileiros.
Além do período de defeso, a pesca esportiva pode ser uma boa aliada na manutenção das espécies de piracema, pois a modalidade envolve a pesca e soltura dos espécimes. Dados demonstram que a prática não impacta diretamente nas taxas de sobrevivência dos peixes e nas suas populações, além de ser um fomenta para a conservação dos rios, visando a prática esportiva e o ecoturismo.
Existem uma série de recomendações para uma melhor gestão pesqueira no país. Entre elas, a necessidade da modernização da Lei da Pesca, para que mais avaliações sejam feitas e informações sejam publicadas.
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