Quando falamos de poluição de rios e águas urbanas geralmente associamos a contaminação dos corpos d’água por esgoto doméstico, produtos químicos e resíduos descartados incorretamente. Essa é uma realidade presente em grande parte dos municípios brasileiros. Conforme dados do estudo da plataforma Trata Brasil, em 2023, o país ainda tem grandes dificuldades com o tratamento do esgoto, do qual somente 51,20% do volume gerado é tratado, ou seja, mais de 5,5 mil piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento são despejadas na natureza diariamente.

Mas não é apenas de contaminação por esgotos que os nossos recursos hídricos sofrem. Temos um perigo invisível e que ainda não sabemos qual o real impacto no meio ambiente e em nossa saúde: os medicamentos. Isso mesmo, fármacos e outras substâncias usadas relacionadas ao nosso estilo de vida são encontradas em nossos rios ao redor do mundo.

Recente estudo realizado por pesquisadores do Reino Unido e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, mostra que todos os rios do mundo estão com contaminação por medicamentos. O estudo colheu mais de 1.000 amostras de água em 258 diferentes rios do mundo, em 104 países em todos os continentes e o resultado foi assustador. Todas as amostras e rios analisados apresentavam resíduos de medicamentos e mais de 25% dos rios continham ingredientes farmacêuticos ativos, em nível considerado inseguro e perigoso para organismos aquáticos e saúde humana.

O principal perigo é a exposição de bactérias comuns em nosso dia a dia com antibióticos ao longo do seu desenvolvimento, condições ideais para o desenvolvimento de resistência dos agentes infecciosos. Mas não foram apenas antibióticos que foram identificados. Os compostos mais conhecidos encontrados foram nicotina, cafeína e paracetamol. Mas os fármacos mais presentes foram a carbamazepina, utilizada no tratamento de epilepsia e dor neuropática e metformina, um medicamento utilizado no tratamento do diabetes.

Os autores do estudo conseguiram traçar um paralelo entre os locais de maior contaminação por medicamentos com países e regiões com menor renda e menos acesso ao saneamento básico. Os locais com maior concentração de remédios nas águas foram observados na África Subsaariana, no sul da Ásia e na América do Sul, entretanto o local com a pior amostra foi em Madrid, na Espanha, explicado pelo período de grande calor, baixas precipitações e volume baixo dos rios.

Já os rios com menores concentrações foram localizados na Islândia, Noruega e rios da floresta Amazônica. Resultados explicados pela boa infraestrutura de tratamento de efluentes e resíduos, gestão eficiente de resíduos de saúde e menor densidade populacional, como é o caso da Amazônia. No Brasil foram realizadas coletas na região sudeste e na Amazônia.

Mesmo as mais modernas estações de tratamento de efluentes não conseguem reter essas substâncias na sua totalidade e isso reflete em uma preocupação futura de como os organismos aquáticos e microrganismos irão responder diante do ambiente repleto de medicamentos, antibióticos e anticoncepcionais. Esses fármacos não são retirados no tratamento dos esgotos e não são filtrados no tratamento da água para consumo humano.

De momento não temos uma solução para esse problema, temos alternativas para atenuar e diminuir esses índices como melhorar a infraestrutura de tratamento de esgotos domésticos, dar correto tratamento a resíduos de saúde e uso adequado de medicamentos, isto é, restringir o acesso a produtos como antibióticos  e outros medicamentos controlados.

Referências:

Ranking do Saneamento 2023 - Trata Brasil

Contaminação de rios por remédios ameaça saúde mundial, diz estudo - BBC News Brasil

Todos os rios do mundo estão contaminados por medicamentos, diz estudo (uol.com.br)

Contaminação de rios por remédios ameaça saúde mundial, diz estudo | Saúde | G1 (globo.com)

Presença de fármacos nos rios é ameaça à saúde mundial, mostra estudo | Agência Brasil (ebc.com.br)

Contaminação de rios por remédios ameaça saúde mundial, diz estudo - 16/02/2022 - UOL VivaBem